quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Espelho


Que invenção humana mais ajudou você a se conhecer? Essa invenção nada mais é do que uma finíssima película metálica disposta sobre uma superfície de vidro plano.No entanto, poucos objetos criados pelo homem incorporam tantas e tão variadas simbologias quanto o espelho.
Na mitologia da Grécia antiga, o herói Perseu usa a superfície polida do seu escudo para destruir Medusa, uma criatura horrorosa com cabelos de cobras que, com o olhar, transformava os homens em estatuas de pedra. Ao encarar apropria imagem refletida no escudo, o monstro se tornou vitima de seu feitiço. Por não produzir luz própria, mas apenas refleti-la, a Antiguidade os espelhos foram associados á lua e, Poe extensão, á mulher sua beleza e vaidade.
Nas religiões afro-brasileiras o espelho representa rios, lagos e cachoeiras.
Os espelhos não remetem só aos mitos e contos de fadas. Também remetem a um jeito sofisticado de viver. O mundo está espelhado, já reparou? Vitrines, restaurantes, bares, edifícios inteiros e até os moveis da casa nos refletem. O efeito disso é mesmo bonito e atraente e revela o quanto a gente precisa se ver, e descobre que uma pessoa vai além do que os espelhos mostram, e a imagem devolvida por eles não precisa ser a única referência para buscar a auto-estima.
Olhar-se no espelho. Por esse ato prosaico, tantas vezes repetido ao longo do dia, em todos os lugares, se reveste de tamanha importância a ponto de valorizar a nossa auto-estima.
Elegem o espelho como o segundo principal instrumento de autoconhecimento, perdendo apenas para os livros por uma margem mínimo. Porém, se alguém quer de verdade se conhecer, precisa lembrar que nossa relação com o espelho não é objetiva. Os antigos viam nas superfícies refletora uma passagem para outros mundos. E, de fato, elas nos conduzem a outra dimensão: nosso universo emocional. Trazendo á tona o melhor e o pior existente em cada um, de autoconfiança e bem-estar a angustia e complexos.
As imagens nos desafiam a questionar a atração e a rejeição diante do corpo exibido de maneira explícita. E, convenhamos, no relacionamento com o espelho as radicalizações são freqüentes: ás vezes estamos de bem, ás vezes muito mal com ele. O espelho é um vazio cristalizado que tem dentro de si espaço para ir para sempre em frente sem parar, pois ele é o espaço mais fundo que existe.
Enxergamos no espelho o que queremos.Ele não reflete apenas a aparência mas também as fantasias colocadas nele. E essas projeções mudam segundo o humor ou o estado de espírito. Quem já não se viu mais gordo ou magro mesmo sem os ponteiros da balança saírem do lugar?Uma coisa é certa,diante do espelho, o julgamento é sempre parcial, pois ele nunca refletirá a complexidade e a beleza, nem sempre apenas física do ser humano.
A imagem captada pelos outros não se resume á aparência, o modo como as outras pessoas nos percebem vai além da noção de sermos altos ou baixos, brancos ou negros, cabelos lisos ou crespos, termos nariz grande. O espelho não mostra se somos alegres, comunicativos, envolventes ou sinceros, atributos também capazes de atrair e conquistar.
A imagem do espelho torna-se assim a única referencia para a auto-estima. Olhos verdes, cabelos sedosos, pele de pêssego, tão valorizados, podem até estar ali, mas sem alma não conseguem expressar o sentimento amoroso, a cumplicidade, a doçura e a compaixão, que fazem a diferença nas relações entre as pessoas.

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